TENÓRIO CAVALCANTI
Tenório em foto histórica, com sua metralhadora
“Lurdinha”, presente de um parente, o general Góes Monteiro
Natalício
Tenório Cavalcanti de Albuquerque, que se popularizou como Tenório Cavalcanti,
foi um dos mais famosos migrantes que vieram do Nordeste para a Baixada
Fluminense. Nascido em Quebrangulo, em Palmeira dos Índios, no Alagoas, no dia
27 de setembro de 1906, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1926, em busca
de emprego. Após exercer diversas atividades profissionais, em 1927 tornou-se
administrador de uma fazenda em Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias, e
depois fiscal da Prefeitura de Nova Iguaçu. Com o tempo, adquiriu fama de
pistoleiro, chamado de “O homem da Capa Preta”, envolvendo-se com as tramas
políticas da região, onde enriqueceu e tornou-se uma poderosa e polêmica figura
política, depois de criar um eficiente sistema clientelista. No Rio, formou-se
em Direito pela Universidade do Brasil.
Sua
carreira política começou em 1936, quando elegeu-se para a Câmara de Nova
Iguaçu, cumprindo mandato até a decretação do Estado Novo. Em 1945, filiou-se à
União Democrática Nacional, elegendo-se deputado na Assembléia Constituinte
estadual em 1947, fazendo oposição ao pessedista Amaral Peixoto. Eleito em 1950
para a Câmara dos Deputados novamente pela UDN, com a quarta maior votação do
Estado, incorporou definitivamente a imagem de líder carismático dos migrantes
nordestinos, empunhando sua metralhadora e envergando uma enigmática capa
preta.
Em 1954
fundou o jornal “Luta Democrática”, obtendo nas eleições daquele ano a maior
votação para deputado federal do estado. Novamente eleito em 1958 com a maior
votação do Estado, candidatou-se dois anos depois ao governo da Guanabara na
legenda do Partido Social Trabalhista (PST), sendo o terceiro mais votado.
Derrotado no pleito para o governo do estado do Rio de Janeiro, elegeu-se
novamente em 1962 para a Câmara, onde permaneceu até sua cassação, em junho de
1964.
Durante
os primeiros dias do golpe militar de abril 1964, abrigou em sua Fortaleza,
erguida na Avenida Presidente Kennedy, no centro da cidade, alguns perseguidos,
como José Serra e Marcelo Cerqueira (Presidente e Vice da UNE). A famosa
residência do político entrou para a história em 1954, quando foi cercada por
tropas do Exército, que ameaçava invadi-la caso ele não se entregasse. Mas tudo
se resolveu sem nenhuma baixa. Depois de ficar fechada por cerca de duas
décadas, a Fortaleza passou a abrigar, a partir de 2004, um centro
profissionalizante do Governo do Estado e uma drogaria. Um dos netos do
político, Fábio Tenório, disse na época que o local abrigaria também um museu
sobre Tenório, um centro cultural, biblioteca e um centro social com
atendimento gratuito.
Orador
brilhante, Tenório tinha fama de não fugir de confronto, mesmo que tivesse de
sacar sua arma. Orgulhava-se das dezenas de cicatrizes pelo corpo. Foi o
idealizador da Vila São José, um conjunto residencial no 1º Distrito, para
abrigar os sobreviventes de um inundação na região nos anos 50 e onde residiu
até sua morte, no dia 5 de maio de 1987, 1º Distrito de Duque de Caxias,
deixando três filhas (Maria do Carmo Cavalcanti Fortes, Maria Helena Cavalcanti
e Sandra Cavalcanti Freitas Lima) e 11 netos. Ali, possuía uma chácara, com um
pequeno zoológico com várias espécies de aves e um lago, que abria para a
comunidade na época das férias. Um ano antes de sua morte, foi lançado o filme
“O Homem da Capa Preta”, sobre sua vida, cujo papel principal foi interpretado
por José Wilker. Sobre o que achou do filme, Tenório disse a este jornalista,
ao ser perguntado se o mesmo abordou corretamente sua vida, após a exibição do
mesmo na pré-estréia, no antigo Cine Paz, na Praça do Pacificador, disse apenas
que “nem tudo se passou” como foi mostrado mas que sabia que cinema era “assim
mesmo”. Ele fez questão de comparecer ao cinema mesmo com a saúde abalada e
amparado por familiares.
Um
episódio que ganhou repercussão nacional e colocou a cidade no noticiário por
muitas semanas, foi o assassinato do delegado Albino Imparato e do seu auxiliar
Bereco, no dia 28 de agosto de 1953. O delegado havia chegado a Duque de Caxias
com ordem de seus superiores de encontrar um jeito de colocar Tenório na
cadeia. Evidentemente não conseguiu tal proeza. As investigações apontavam para
o deputado Tenório como mentor e mandante do crime, diante das públicas
divergências entre o parlamentar e o delegado, e seu primo Pedro Tenório como o
autor dos disparos. O crime ocorrera depois de um tiroteio, na entrada da
Associação Comercial, onde se realizava parte da programação em homenagem ao
"Dia do Soldado", envolvendo o deputado e adversários políticos do
PSD, na época chefiado pelo empresário Tupynambá de Castro. O delegado foi
morto, na verdade, segundo as autoridades da época, por haver desafiado a
autoridade de Tenório, que, protegido pela imunidade parlamentar, nunca foi
levado ao banco dos réus pelas dezenas de crimes que a polícia atribuiu a ele.
(Josué Cardoso, Janeiro de 2006. Foto: Acervo do Instituto Histórico da Câmara de Duque de Caxias)
(Josué Cardoso, Janeiro de 2006. Foto: Acervo do Instituto Histórico da Câmara de Duque de Caxias)
Deputado federal em duas legislaturas,
duas vezes candidato ao governo do estado no Rio de Janeiro,Tenório Cavalcanti teve a vida
marcada pela violência nos anos 50 e 60 e tornou-se lenda e mito,
principalmente para a população humilde de Caxias.