A
exposição ‘Leonardo da Vinci, Anatomista’, em cartaz em Londres, mostra
pela primeira vez estudos anatômicos feitos pelo artista entre 1485 e 1513.
Parte de um tratado sobre anatomia que nunca chegou a ser publicado, o material
é cientificamente superior à ciência que estava sendo praticada na época.
Clayton: “Os desenhos de Leonardo estão entre as
melhores representações do corpo humano já criadas”
“Os desenhos de Leonardo estão entre as melhores
representações do corpo humano já criadas. Se tivesse publicado seu trabalho,
ele seria conhecido como um dos grandes cientistas da história”, comenta Martin
Clayton, curador da exibição.
Os cadernos expostos na Royal Collection, no
Palácio de Buckingham, mostram ilustrações e anotações, feitas em sua
característica escrita espelhada, representando e descrevendo órgãos humanos e
animais. Da Vinci utilizou técnicas de visualização inovadoras para a época,
como secções transversais, representação em planos e a ‘vista explodida’, em
que cada elemento da imagem é representado separadamente.
O artista também teve a ideia de usar práticas
comuns em escultura para seus estudos anatômicos, como injetar cera derretida
dentro dos ventrículos do cérebro para, depois de seca, poder dissecá-lo
observando as estruturas e cavidades em seu formato original.
No começo dos estudos anatômicos de Da Vinci, por
volta de 1480, grande parte dos desenhos era baseada em dissecações de animais
ou mesmo nas crenças da época, como mostra uma representação de cabeça humana
em que os olhos estão diretamente ligados às três câmaras no cérebro, nas
quais, acreditava-se, eram processadas as informações e armazenada a memória.
Este estudo de uma cabeça humana (1485-90) mostra
uma representação do cérebro de acordo com as crenças da época, com três
câmaras onde estariam localizadas as informações e a consciência. (foto: The
Royal Collection)
Posteriormente, Da Vinci passou a ter acesso a
corpos humanos para estudo. Ao contrário do que se acredita, a dissecação
humana não era crime na época, e Leonardo da Vinci abertamente relata ter
dissecado mais de 30 corpos. Só no inverno de 1510-1511, trabalhando com o
professor de anatomia Marcantonio Della Torre, da Universidade de Pádua, o
artista teve acesso a 20 corpos.
Entre as ilustrações do aparelho reprodutor,
fonador, do sistema nervoso e várias outras partes do corpo humano, também é
possível ver estudos feitos para obras específicas, como o Judas na Última Ceia’
ou os cavalos e guerreiros da Batalha de Anghiari.
Abrahams: “Se esses estudos tivessem sido
publicados na época em que foram feitos, eles teriam tirado o livro de Vesalius
do mercado”
Após a morte de Da Vinci em 1519, seus cadernos
foram guardados e esquecidos. Em 1543, o anatomista belga Andreas Vesalius
publicou o que seria o mais importante tratado anatômico da história, De
humani corporis fabrica, considerado até hoje um divisor de águas na
história da medicina.
Porém, segundo Peter Abrahams, professor de
anatomia clínica na Warwick Medical School, no Reino Unido, o trabalho de Da
Vinci é “muito superior” à grande parte do trabalho de Vesalius, considerado o
pai da anatomia moderna. “Se esses estudos tivessem sido publicados na época em
que foram feitos, eles teriam tirado o livro de Vesalius do mercado”, observa
Abrahams.
“Comparados às ilustrações de 'Gray’s Anatomy' [livro clássico do estudo da anatomia],
feitas no início do século 19, as ilustrações de Da Vinci transmitem mais vida
e uma compreensão melhor do assunto”, diz Gus McGrouther, professor de cirurgia
plástica e reconstrutiva na Universidade de Manchester.
No século 17, os cadernos com os estudos anatômicos
de Da Vinci foram adquiridos pela família real inglesa e passaram a fazer parte
da Royal Collection. Mas apenas muito tempo depois, em 1900, eles seriam
“redescobertos” e seu devido valor finalmente compreendido.
http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2012/07/o-anatomista-leonardo-da-vinci
http://www.unicamp.br/unicamp/ju/568/leonardo-da-vinci-o-desbravador-do-corpo-humano
http://www.unicamp.br/unicamp/ju/568/leonardo-da-vinci-o-desbravador-do-corpo-humano
No Renascimento, artistas como Leonardo aproximaram-se de
médicos-anatomistas para retratar melhor a forma humana em pinturas e esculturas.
Eles foram chamados de “artistas-anatomistas”. Embora fosse fundamentalmente um
artista, [Leonardo] considerava a anatomia como sendo algo mais que simples
coadjuvante da arte. Essa atitude o levou a prosseguir com seus estudos, de tal
maneira que seus conhecimentos anatômicos ultrapassaram aqueles que seriam
suficientes para desempenhar sua arte”.
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